Por Andrés Pascal, da JSB
O Amazonas tem facilidade em vender o que não tem. Em divulgar o ilusório e se vangloriar do que não existe.
Há duas semanas eu ví em um dos quiosques do aeroporto uma caixinha de madeira bem bonita, onde havia um desenho da Arena da Amazônia na tampa. Hoje também descobri que Manaus já ganhou uma placa de trânsito indicando a localização do estádio que será construído para a copa de 2014. Por enquanto a colossal arena nem está perto de existir, mas o turista já pode comprar souvenir do lugar e imaginar que ela está lá.
Infelizmente o nosso Estado tem essa capacidade absurda de vender o que não existe. De chamar atenção por coisas boas e grandiosas que não passam de ilusão. Nem vou entrar na polêmica discussão sobre a viabilidade de uma Copa do Mundo em Manaus, mas me sinto constrangido em ver que o Amazonas se vangloria por ter o estádio mais belo do Brasil, mesmo sabendo que ele ainda não passa da imaginação de meia dúzia.
Mas estes orgulhos tortos não começam aí. São de muito tempo, aliás. Manaus já teve o melhor prefeito do país (por duas vezes) sem que a população concordasse com isso de verdade. O Brasil já caiu no conto dos nossos “empresários”, e comprou um ministro dos transportes que deixou em desgraça o transporte público manauara. Como entender enganos dessa proporção? Sim, sabemos vender muito bem.
Recentemente a capital do “Extresso” ganhou um prêmio nacional por ser um dos melhores transportes públicos do país. A galera no T2 vaiou em peso. Ora, amigo leitor, nem precisa andar de ônibus pra saber da distância que estamos deste título. Veículos sucateados, sistema em crise, tarifa alta, greves…e eu me pergunto: “O que foi que eles viram aqui?”
Mas, pensando bem, esse engano é até explicável. Já que a “elite” sulista do país imagina Manaus como uma grande floresta habitada unicamente por índios selvagens que fogem de onças em suas canoas, saber que os “primeiros” ônibus começam a funcionar no meio da mata é de causar admiração. “Eles estão planejando um monotrilho? Nossa. Dá logo esse prêmio pra eles”.
Aliás, essa visão estereotipada do Amazonas também é responsabilidade nossa. Nem adianta culpar o Globo Repórter. Nossos “empresários” adoram divulgar o Estado como uma grande floresta verde, selvagem e isolada (sem falar da famosa sustentabilidade). Destacando o amazonense como o povo marginal que precisa viver sem as maravilhosas inovações encontradas apenas no sul do país. E isso vende, amigo. Como vende.
Mal eles sabem que é das mãos deste povo selvagem que surge boa parte destas inovações. Pelo menos disso podemos nos orgulhar. Aliás, já passou da hora de esquecermos o ilusório e passarmos a exaltar o que é bom de verdade: O povo amazonense, que só ta precisando de um pouquinho de auto-estima para começar a se valorizar e construir um futuro melhor e mais palpável.
Postado originalmente no http://blogs.d24am.com/agridoce/2011/02/15/e-que-o-nosso-empresario-e-bom/
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