21 de jul. de 2008

Jornal Semanal Repórter

"Propriedade privada dos Lins é invadida por estudantes"
20-Jul-2008

Estudantes do movimento Juventude Socialista Brasileira desafiam a leseira do povo e lembram Chico Science: "Um passo à frente, e você não está mais no mesmo lugar".
Os protestos da última quinta-feira, 17, contra as peraltices de Belarmino Lins à frente do Poder Legislativo amazonense, chamaram a atenção da imprensa e dos motoristas, que, parados no semáforo do Belão e do Sabá Reis, assistiram a uma verdadeira lavagem do Bonfim.
A comparação, à primeira vista herética, trás uma boa dose de justiça, já que, com maior frequência e menor senso de ética do que deveriam, nossos deputados adora usar o nome de Deus em vão.O protesto na Juventude Socialista Brasileira, ao lavar simbolicamente a rampa de entrada da ALE, foi tão aliviador quanto inócuo. Aliviador, porque grande parte das vítimas do roubo duplamente qualificado da ALE (roubar dos pobres pra dar a parentes, além de tripudiar das vítimas em veículo nacional de imprensa), ordeiramente caladas e civilizadamente indignadas, puderam saber que há, sim, uma parcela da juventude amazonense (algo em torno de 0,0000000008% dela) capaz de passar a vergonha de protestar. Inócua, porque o alvo maior do protesto, Belarmino Lins, já estava em São Paulo, protegido por um atestado médico muito provavelmente forjado. É uma acusação perigosa, mas completamente plausível, dadas as provas de que a segunda casa da família Lins de Albuquerque fazia as vezes, também, de usina de fraudes documentais.Os estudantes que lideraram o protesto estão de parabéns pelo desprendimento, pela disposição de "pagar o mico", e podem dormir tranqüilos, pois já podem dizer que, se não fizeram nada que pudesse de fato mudar a ordem vigente da bandalheira institucional, ao menos disseram à socidade amazonense o que toda ela sabe. O grande mico é o da platéia.A sem-vergonhice de Belarmino e de seus colegas parlamentares é recorrente em todas as regiões do país. Odilon Rios, repórter de O Globo, contou durante a semana, que em meio a uma grave crise política, com deputados estaduais acusados de desvio de dinheiro público, de assassinatos e até de furto de energia elétrica, os parlamentares de Alagoas tentaram aumentar os próprios salários, mas não conseguiram. Houve espaço, porém, para criar novos cargos de confiança e engordar os vencimentos do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), de R$ 11.500 para R$ 17.200, e, ao mesmo tempo, livrá-lo de ser processado pelo Superior Tribunal de Justiça no inquérito que investiga a Operação Navalha. Os deputados negaram o pedido feito pelo STJ para investigar Teotonio. Ele é acusado de receber R$ 500 mil do empresário Zuleido Veras, dono da construtora Gautama. O governador nega. A Assembléia criou 60 cargos comissionados, sem necessidade de concurso, com salários médios de R$ 500. Oposição e governo apoiaram a iniciativa.No Amazonas, a oposição histórica de Eron Bezerra, que posava ao lado do cadáver maquiado de Lenin no sagrado exercício da constestação dos desmandos do poder, ruiu melancolicamente, sem um tiro, sem um muro tombado sequer. É de se imaginar que Eron, nos últimos momentos de sua carreira comunista, sabia, por exemplo, das maracutaias urdidas por Belarmino, Lino Chíxaro, Francisco Balieiro e Omar Aziz, acerca da aposentadoria do vice-governador. À platéia silenciosa das ruas, vale lembrar que Omar contou, sim, com a conivência silenciosa de Eron para aprovar ilegalmente o que seria sua recompensa por tanto trabalho, como é mostrado no tocante desabafo do vice-governador ao superintendente do jornal A Crítica, João Bosco, na ligação em que negociava o abafamento da falcatrua junto à imprensa: "É cara, todo mundo tem direito e eu não tenho porra, eu assumo que só uma porra o governo rapaz!", justificava Omar, do telefone grampeado de seu assessor Paulino, preso na Albatroz. E Eron sabia. É fácil deduzir isso, não apenas pela ausência de sua grave voz a rebater as insinuações, mas especialmente porque não havia insinuações, e sim provas. Foi Omar quem disse a Belão, em conversa do dia 6 de dezembro de 2005: "Só precisa saber você, o BALIEIRO e o LINO. O ERON (BEZERRA) tá sabendo e vai ficar calado entendeu?"Não é justo ignorar o discurso sempre respeitoso de Luiz Castro (PPS), além do posicionamento oposicionista de Arthur Bisneto (PSDB), Ângelus Figueira (PV) e Liberman Moreno (PHS). Castro é tão elegante em sua oposição, que ela acaba se confundindo com uma neutralidade que contrasta com a gravidade da situação. A oposição amazonense – e toda oposição deve ser festejada, não por estar correta ou errada, mas por simplesmente existir – merece o registro de que, de fora do clube governista, nunca se deixa vencer calada. Bem, quase nunca.Em termos práticos, o que a meninada socialista mostrou foi que, mesmo que ninguém se insurja contra Belarmino e seus compadres, eles preferem protestar. O recado da lavagem da ALE, esvaziado pela cobertura jornalística tendenciosa, pautando o evento pelo ridículo e pelo inusitado, é o de que a vergonha não está em empunhar vassouras, caixas de sabão e creolina no meio da rua. A vergonha está em quem assiste. Em quem ri de quem protesta na rua, enquanto divide o semáforo com o Ford Fusion de vidros escurecidos do presidente da ALE.Engana-se quem atribuiu aos caras-pintadas a queda de Fernando Collor. Ainda que com maiores pudores em relação aos malandros amazonenses, os deputados e senadores que escorraçaram o caçador de marajás do Palácio do Planalto pouco devia à opinião pública – ou pouco achava que devia. Collor caiu, ironicamente, por uma das "carroças" brasileiras, um Fiat Elba comprado irregularmente. Collor caiu com o depoimento de um motorista. Collor caiu sob as acusações de um irmão. Os estudantes gazeteiros que pintaram a cara e foram curtir o momento pouco tiveram a ver com o que ocorria em Brasília. O povo pouco tem a ver com o que ocorre em Brasília.A lição dada pelo protesto do "lava-chão" na ALE é a do limite a que chegamos. Nestes dias em que a discussão nacional mais acalorada é sobre o uso ou não de algemas para prender bandidos, resta pouco a qualificar na discussão civilizada de nível institucional. É chegado o momento de a sociedade amazonense discutir entre si e procurar se informar sobre o que pode fazer contra a roubalheira dos políticos.O anúncio de Belarmino Lins, durante a semana, de que iria conversar com seus colegas sobre o fim do nepotismo, é, ao mesmo tempo, uma rendição – não à imprensa local ou ao povo que elegeu Belão, mas à Veja – e um escárnio ainda maior. Belarmino precisa de alguns dias de descanso e deliberações, junto aos seus familiares, para lhes explicar sobre seus proventos de fim de mês. Até que servidores de carreira de outros órgãos públicos sejam alijados de seus cargos para comportar a enxurrada de neo-desempregados do mercado de trabalho amazonense, a ordem é esperar. Belarmino anunciou que vai conversar sobre o assunto depois do recesso.Talvez seja o caso de grampear, com autorização judicial, os telefones das cúpulas do Tribunal de Justiça do Amazonas, do Governo do Estado, do Tribunal de Contas e dos demais órgãos e autarquias do estado. Os Lins estão no mercado.Aos garotos da Juventude Socialista, a saudação de parte de uma sociedade entorpecida pela cultura do silêncio e da vergonha de reclamar. Parte desta sociedade, ainda carente de representantes que dêem rosto e voz a suas demandas, insiste em enxergar, por trás dos vidros escurecidos dos carrões e por trás dos paletós do Iguatemi – pagos por ela, a sociedade –, apenas deuses de barro, muitas vezes com pouca formação acadêmica, quase nada de experiência profissional e nenhuma noção, por mais parca que seja, do que é ética pública.

Comentários (1)

1. Escrito por Maria Maia: Realmente não podemos assistir passivamente as mazelas que acontecem na nossa sociedade! Parabéns à Juventude Socialista Brasileira!!!
Fonte: www.reporter-am.com.br

Um comentário:

  1. Nossos protestos ainda são muito pequenos, como alguns meios de comunicações preferem publicar ironicamente, mais podem ter certeza que se não surtissem efeito algum não seriam motivo de nenhum comentário...o mais importate temos certeza que fazemos,PROTESTADO contra a corrupção e nepostismo em que nossa cidade foi mergulhada pelos maus políticos...a nossa maior certeza é que a população começa a abrir os olhos para ver realmente quem luta por uma cidade mais justa e digna para todos e é por isso que lutamos junto ao Serafim 40.

    ResponderExcluir